Umav Ozatroz
rimando, aspirando, transformando
Empáfia
27/10/2011
Publicado por em Roubaram sua espada
Cagaram em sua cabeça
Arranharam sua figura
Cobriram de impropérios
Macularam sua beleza
Arrancaram alguns pedaços
Moveram para longe
Sublime e admirável porém
Permaneceu impávido o monumento
Desafiando com soberba indiferença
O ódio do tempo
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Roceira
27/10/2011
Publicado por em a roceira trajava glamuroso uniforme social
e usava máscara envernizada a civilização
empunhou sua metralhadora e soltou a voz
saiu asneira no surdo grito em meio a barulheira
Ser poeta
27/10/2011
Publicado por em ser poeta é ser atormentado
ser presa fácil é ser inseguro
ser canalha é ser ator melado
ser palhaço é ser que leva murro
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coadjuvantes insólitos
27/10/2011
Publicado por em o terno armani rasgou-se ao catar da calçada o centavo do bolso furado
perdeu um olho mas ganhou invejável corpo ao fazer dieta o caolho gordo
par de olhos tímidos retirou-se para a privacidade de um óculos-de-sol
resmas de papel em revoada acorbertaram a saia que se revoltava
errantes sapatos acertavam os passos rumo a sandálias vagabundas
em círculos pequenos circulava um rumor de que aquela roda não girava bem e tinha tara por pés
o tapete aceitou submisso o suborno da vassoura
duelaram amavelmente até o amanhecer empunhando uma só espada
parede de tijolos passava o tempo com quebra-cabeças no hospício
seu requebrado partiu ao meio o coração enciumado
o colarinho frouxo reclamou ao amigo que, espumando de raiva, matou a sede e as mágoas
o queijo no anzol fisgou quase toda a ninhada daquele mar de merda
uma verve mágica encantava multidões com palavras que a cobiça surda invejava
Refeição Lupina
27/10/2011
Publicado por em Mostra-me tua boca
Faminta por palavras
Seca rangendo dentes
Ávida por suculentos
Adjetivos
Instigado por tua fome
Vou à caça de nomes
Em manadas plurais
De adjetivados
adverbiozinhos
Mortos a frio
Estou de volta
Ainda tens fome?
Morde minha barriga
Repleta de versos
E pronto come
Enquanto quente
Meu vômito
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Fim
26/10/2011
Publicado por em Eu gostaria de acreditar que um dia tudo fará sentido e que Deus surgirá e se mostrará tão incompreensivelmente belo que a mera prostração em sua admiração por toda a eternidade será o literal nirvana poético.
Mas eis a realidade em prosa: não passamos de macacos fedorentos, assustados e covardes, passando o tempo entre a correria pelo direito a vivenciar uma existência absurda e estatisticamente improvável a jogar merda uns nos outros.
E assim se dará o fim da espécie humana: não através da explosão de nosso sol, impacto com meteoro, exterminados por aliens, ou julgados por uma divindade imaginária mas sim afogados na própria merda.
Que reinem as baratas!
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Nuvens
26/10/2011
Publicado por em abre tua janela
deixa correr vento
levando lamento
lágrimas são belas
condensadas
em nuvens
Reminiscência
26/10/2011
Publicado por em Ali, no meio de folhagens diversas
Ressequidas sobre o solo
Reencontrou o que há tempos havia perdido
Mas não pode levá-la de volta consigo
Sua copa assomava-lhe à cabeça
As raízes firmes no chão
Tirou seu canivete
Entalhou seu coração
E partiu
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Desentendimentos
26/10/2011
Publicado por em não consigo falar contigo ao falar consigo
não consigo falar consigo ao falar contigo
consigo a falar contigo não consigo falar
contigo não consigo falar consigo
falar consigo não consigo
contigo falar não consigo
consigo não falar ao falar consigo
consigo a falar falar não consigo
falar não consigo contigo a falar
falar consigo consigo falar
falar contigo não consigo falar
consigo falar falar consigo
consigo falar contigo
não consigo não falar consigo
consigo falar não consigo
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Pirraças
26/10/2011
Publicado por em acertou no alvo nu escuro e foi preso
acertou na mosca o feijão na sopa
foi alvejado pelo vitiligo
a ovelha negra em luto fugiu
as brancas permaneceram abatidas
onça parda na areia amarela unta com loção branca o camarão rosa
barata latina baila bamba na latrina
escurinho mirradinho enterrou racista irascível
—-
Racismo é deprimente. O melhor é rir dessa gente.
Mero jogo de palavras sobre o tema.
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