Umav Ozatroz

rimando, aspirando, transformando

Empáfia

Roubaram sua espada
Cagaram em sua cabeça
Arranharam sua figura
Cobriram de impropérios
Macularam sua beleza
Arrancaram alguns pedaços
Moveram para longe

Sublime e admirável porém
Permaneceu impávido o monumento
Desafiando com soberba indiferença
O ódio do tempo

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Roceira

a roceira trajava glamuroso uniforme social
e usava máscara envernizada a civilização
empunhou sua metralhadora e soltou a voz
saiu asneira no surdo grito em meio a barulheira

Ser poeta

ser poeta é ser atormentado
ser presa fácil é ser inseguro
ser canalha é ser ator melado
ser palhaço é ser que leva murro

daki

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coadjuvantes insólitos

o terno armani rasgou-se ao catar da calçada o centavo do bolso furado

perdeu um olho mas ganhou invejável corpo ao fazer dieta o caolho gordo

par de olhos tímidos retirou-se para a privacidade de um óculos-de-sol

resmas de papel em revoada acorbertaram a saia que se revoltava

errantes sapatos acertavam os passos rumo a sandálias vagabundas

em círculos pequenos circulava um rumor de que aquela roda não girava bem e tinha tara por pés

o tapete aceitou submisso o suborno da vassoura

duelaram amavelmente até o amanhecer empunhando uma só espada

parede de tijolos passava o tempo com quebra-cabeças no hospício

seu requebrado partiu ao meio o coração enciumado

o colarinho frouxo reclamou ao amigo que, espumando de raiva, matou a sede e as mágoas

o queijo no anzol fisgou quase toda a ninhada daquele mar de merda

uma verve mágica encantava multidões com palavras que a cobiça surda invejava

Refeição Lupina

Mostra-me tua boca
Faminta por palavras
Seca rangendo dentes
Ávida por suculentos
Adjetivos

Instigado por tua fome
Vou à caça de nomes
Em manadas plurais
De adjetivados
adverbiozinhos
Mortos a frio

Estou de volta
Ainda tens fome?
Morde minha barriga
Repleta de versos
E pronto come
Enquanto quente
Meu vômito

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Fim

Eu gostaria de acreditar que um dia tudo fará sentido e que Deus surgirá e se mostrará tão incompreensivelmente belo que a mera prostração em sua admiração por toda a eternidade será o literal nirvana poético.

Mas eis a realidade em prosa: não passamos de macacos fedorentos, assustados e covardes, passando o tempo entre a correria pelo direito a vivenciar uma existência absurda e estatisticamente improvável a jogar merda uns nos outros.

E assim se dará o fim da espécie humana: não através da explosão de nosso sol, impacto com meteoro, exterminados por aliens, ou julgados por uma divindade imaginária mas sim afogados na própria merda.

Que reinem as baratas!

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Nuvens

abre tua janela
deixa correr vento
levando lamento
lágrimas são belas
condensadas
em nuvens

Reminiscência

Ali, no meio de folhagens diversas
Ressequidas sobre o solo
Reencontrou o que há tempos havia perdido
Mas não pode levá-la de volta consigo
Sua copa assomava-lhe à cabeça
As raízes firmes no chão
Tirou seu canivete
Entalhou seu coração
E partiu

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Desentendimentos

não consigo falar contigo ao falar consigo
não consigo falar consigo ao falar contigo
consigo a falar contigo não consigo falar
contigo não consigo falar consigo
falar consigo não consigo
contigo falar não consigo
consigo não falar ao falar consigo
consigo a falar falar não consigo
falar não consigo contigo a falar
falar consigo consigo falar
falar contigo não consigo falar
consigo falar falar consigo
consigo falar contigo
não consigo não falar consigo
consigo falar não consigo

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Pirraças

acertou no alvo nu escuro e foi preso

acertou na mosca o feijão na sopa

foi alvejado pelo vitiligo

a ovelha negra em luto fugiu
as brancas permaneceram abatidas

onça parda na areia amarela unta com loção branca o camarão rosa

barata latina baila bamba na latrina

escurinho mirradinho enterrou racista irascível

—-
Racismo é deprimente. O melhor é rir dessa gente.

Mero jogo de palavras sobre o tema.

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